terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Rescaldo de uma entrevista…



A recente entrevista dada pelo Presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha ao Diário de Aveiro confirma o vazio de ideias, a ausência de estratégia e visão política e a tentativa, cada vez mais evidente, de iludir os munícipes com falsas modéstias e promessas vãs!

Nas mesmas datas em que o Ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, numa conferência em Vila Nova de Gaia, assumia dar continuidade à prioridade do anterior Governo relativamente à ferrovia, nomeadamente aos investimentos na Linha do Norte e à ligação Aveiro-Salamanca, António Loureiro regozija-se com o sucesso do Festival do Pão!

O Presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha devia ser o defensor mais visível do investimento reiterado pelo Senhor Ministro, na medida em que a concretizar-se, e mantendo a estação regional no local defendido e bem justificado pelo anterior Executivo municipal, sob a liderança do PSD, o concelho de Albergaria-a-Velha, especialmente a sua zona industrial, será um dos maiores beneficiários. Se aliarmos as rodovias que servem o concelho, à proximidade ao Porto de Aveiro e ao novo nó ferroviário, Albergaria-a-Velha consolida todo o seu potencial geoestratégico. Sobram as razões que justificam uma outra atitude do atual poder político municipal, cujo desinteresse e desvalorização ficou patente aquando da última alteração ao PDM, da sua única responsabilidade, que retirou o mínimo de importância que um documento desta natureza, estratégico e visionário, pudesse dar ao assunto. E não foi por falta de aviso ou sugestão, pois o PSD vincou de forma clara e inequívoca esta lacuna, ainda que sozinho, numa das tímidas e raras sessões de apresentação das alterações introduzidas ao PDM levadas a cabo pelo CDS e pelo seu Presidente.

Da entrevista, retiramos algumas referências merecedoras de nota, para memória!

Podemos começar logo pelo título, que destaca o facto de, no passado, isto é nos mandatos sob a liderança do PSD, haver “menos audácia”! É verdade, se atendermos que, entre os significados, audácia representa “particularidade de algo ou de alguém que não demonstra respeito; qualidade do que ou de quem não possui consideração por outras pessoas, além de si mesmo”! De facto, no passado, havia muito mais respeito pelos eleitores, pelos munícipes e pelos trabalhadores da Câmara Municipal; pugnava-se pela verdade, pela transparência, pela informação/esclarecimento, pela igualdade, pelo sucesso coletivo.

É muito relevante, porque outros momentos houve em que foi negado, que António Loureiro tenha assumido que herdou uma Câmara de boa saúde financeira!

Do balanço do exercício no atual mandato, António Loureiro destaca, na Educação, melhoramentos nas instalações, melhoria da qualidade das refeições e alargamento do tempo das assistentes operacionais! Muito pouco! Gestão Corrente da herança! Passados 2 anos da eleição, deveríamos estar a discutir a nova Carta Educativa, enquanto documento orientador dos agentes educativos relativamente à estratégia e aos objetivos que o Executivo quer e defende para o Município! Foi assim no passado, em 2007 o PSD apresentou a primeira Carta Educativa do concelho, elaborada internamente, em articulação e trabalho conjunto de técnicos e políticos, que levou à reorganização da Rede Escolar Municipal e à consolidação do Programa Municipal de Educação, criado em 2002. Agora, sem ideias, sem rumo e com os serviços municipais espartilhados, desmotivados e sem liderança, o Executivo contratualizou a elaboração da nova Carta Educativa, gastando 35 mil euros! 

Não deixa de surpreender que o grande projeto que tem para apresentar do trabalho realizado seja o Festival do Pão! Tendo António Loureiro esgotado, em campanha eleitoral, todos os argumentos na crítica à dinâmica cultural do Município, enfatizando o excesso de “Festa”, é, no mínimo, caricato que apresente como bandeira uma Festa! Importa ainda referir que se, de facto, o Festival do Pão deu visibilidade a Albergaria-a-Velha não foi pelo sucesso organizativo e, muito menos, pelo retorno que trouxe ao concelho, sem quaisquer evidências económicas, sociais ou outras, entre uma e outra edição. A visibilidade advém exclusivamente dos gastos obscenos em publicidade alusiva ao evento, pagos a uma empresa diretamente ligada à eleição de António Loureiro nas autárquicas de 2013. Na altura, o atual Presidente criticava também os gastos em publicidade, prometendo criar uma bolsa para estudantes do ensino superior com essa verba; porém, na promoção do Festival do Pão gasta mais do que o anterior Executivo nos eventos do ano todo.

É também de notar que os dois projetos apresentados na área do turismo – Rota dos Moinhos e Albergue Municipal – são duas boas heranças que ficaram prontas para “inaugurar” e dinamizar no seguimento de todo o trabalho que vinha a ser realizado, por vários intervenientes, ao longo de alguns anos. Pena que o movimento associativo tenha sido afastado, ele que esteve na base e consolidação destes dois projetos e que seria uma mais-valia na sua dinâmica, nãos sendo necessário recorrer a associações externas e, muito menos, gastar milhares de euros num projeto de promoção que estava feito e pago, como aconteceu com a Rota dos Moinhos.

Finalmente, um reparo para um aspeto que, porventura, só o Presidente, e talvez parte do executivo, vê — a melhoria significativa da atividade do Cineteatro Alba e, pasme-se, o maior envolvimento das coletividades!!! Se há área em que são manifestas as diferenças, no caso para pior, é ao nível da dinâmica e programação cultural do Cineteatro Alba. E, essencialmente, no afastamento dos responsáveis políticos da área da cultura relativamente ao movimento associativo. Não só deixaram e se envolver na valorização, apoio e promoção dos projetos como, muitas vezes, deixaram de marcar, sequer, presença nos momentos de decisão e nos próprios eventos. Em vez de apoiar o movimento associativo, de redefinir e orientar o Programa Municipal de apoio, o Executivo apostou na criação de coletividades com fins meramente eleitoralistas, lideradas por familiares, amigos ou agentes político-partidários, pondo em causa princípios básicos de transparência.

Esta entrevista é, pois, o espelho da inércia a que o Município está votado; onde a demagogia e a retórica que diariamente são lançadas para a comunicação social procuram esconder uma ação política de compadrio e amiguismo e a falta capacidade e competência para atrair e fixar investimento, como aconteceu com a A. Silva Matos, que tendo muito interesse em ficar em Albergaria foi instalar-se em Aveiro, e está a acontecer com a Polivouga que querendo continuar a investir em Albergaria, adquiriu já um terreno na zona industrial de Estarreja e vai lá construir a sua nova unidade. É investimento e centenas de postos de trabalho que deixamos de ter…

Albergaria merece mais e melhor!



Albergaria-a-Velha, 15 de janeiro de 2016